EMECE-Encontro de Mocidades Espíritas do Ceará

quarta-feira, 24 de junho de 2009

ABORTO (POLÊMICA)

polêmica
'Estupra mas não aborta'. É o que pensa um arcebispo
Muitas vezes os leitores deste blog são muito mais ágeis do que o blogueiro. Eu já havia pensado em comentar o caso do estupro de uma menina de 9 anos pelo próprio padrasto, quando o episódio foi ganhando dimensão e virou o tema de discussão na caixa de comentários do blog.
Esse caso tem uma sequência de barbaridades que me dá a sensação de que o Brasil está cada vez mais distante de um debate maduro sobre a segurança e criminalidade. Primeiro, uma criança é estuprada e engravidada de gêmeos pelo próprio padastro. Os médicos conseguem salvar a vida da grávida e fazer um aborto, que é previsto dentro da lei. Depois do silêncio sobre o estupro, uma autoridade eclesiástica vem condenar os médicos que fizeram o aborto legal.
O Direito Canônico da Igreja Católica - que torna automática a excomunhão de quem praticar aborto - pode ser muito últil mas apenas para quem pertence àquela igreja. Eu, que não sou católico, confesso não estou nada preocupado como Direito Canônico.
Mas o que me preocupou de verdade foi ouvir o arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, dizer que aborto é mais grave que estupro e às vésperas do Dia Internacional da Mulher, a maior vítima desses dois tipos de crime. O estupro é considerado um crime hediondo no Brasil. As leis dos homens podem definir os crimes maiores e menores. Mas diante da lei de Deus, que o arcebispo apregoa seguir, não há pecados maiores nem menores. Não sou teólogo, mas pelo pouco que conheço, a Bíblia não autoriza ninguém a dizer que um pecado é mais ou menos grave do que outro. Essa escala de valores é transmitida de acordo com a cultura de cada povo ou grupo.
O aborto é considerado crime no Brasil, exceto em duas situações: no caso de estupro e de risco de vida para a mãe. Imagino que ninguém em sã consciência é a favor do aborto, embora o problema mais grave desse "pecado" é que seja praticado contra o próprio corpo da mulher, colocando em risco sua própria vida. O aborto pode ser considerado um homicídio culposo, sim, mas marcado pelo intenso debate sobre a individualidade do feto. A Bíblia considera o feto uma vida humana que não pode ser ceifada (não matarás). Decidir que vida terá direito a prosseguir fora do útero é sem dúvida uma intervenção humana nos planos insondáveis de Deus, mas só Ele tem o poder de julgar aqueles que tentam se passar por Deus.
Já o estupro está claro que é um crime contra o corpo e alma da vítima, mais precisamente da mulher. Pode deixar sequelas irreparáveis, talvez piores do que para quem se sentiu culpado por decidir por abortar um feto. A pena prevista no Código Penal é de 6 a dez anos de reclusão (artigo 213). O crime foi considerado hediondo a partir de 1990.
Pelo pouco entendimento que tenho de assuntos teológicos, a cruz simboliza a comunhão entre Deus e entre os homens (uma haste é horizontal e outra vertical). Como a cruz também é um símbolo do catolicismo, imagino, portanto, que a Igreja Católica pense que a comunhão com Deus também pressuponha comunhão entre os homens. E como pode haver comunhão perfeita com Deus se uma pessoa ofende e despreza outra pessoa, com a prática de crimes como estupros, assaltos, sequestros, homicídios, torturas? A meu ver todos esses criminosos deveriam ser excomungados.
Mas o arcebispo de Olinda acha que o correto é excomungar os médicos que fizeram um aborto legal. Essa atitude do reverendíssimo me lembra aquela frase infeliz dita um dia pelo pequeno grande político Paulo Maluf durante sua candidatura às eleições presidenciais em 89: "Estupra mas não mata". A atitude do arcebispo ecoa no meu ouvido exatamente assim: "Estupra, mas não aborta".

É repugnante a postura do arcebispo de Recife, da CNBB e do Vaticano no que diz respeito à condenação pública – através do rito da excomunhão – da família da menina de Pernambuco estuprada e engravidada pelo padrasto, e da equipe médica que nela realizou um procedimento de aborto.
O fundamentalismo religioso é uma chaga social que deve ser combatida em nome do progresso da humanidade e dos verdadeiros valores humanistas. Em seu zelo por dogmas petrificados e descolados da vida real, os fundamentalistas religiosos preferem a possibilidade da morte de milhares de mulheres, submetidas a abortos clandestinos, por ano a simplesmente arranhar um de seus “valorosos” princípios irracionalistas imutáveis.
O desprezo demonstrado diante do drama concreto da criança em questão e de sua família, revela o quanto estes “partidários do amor”, os fundamentalistas religiosos, expressam a antiga noção de que a pior hipocrisia é a hipocrisia de origem religiosa.
Como se fosse pouco, os “homens de fé” em questão ainda foram capazes de afirmar que o estuprador pedófilo merecia uma repreensão menos severa do que aquela reservada à família da menina e à equipe médica. É o cúmulo do anti-humanismo e da mentalidade reacionária e obscurantista. Diante de tanta escuridão, não me canso de proclamar a necessidade e as virtudes da razão que, de acordo com Habermas e os marxistas, entre outros, ainda não foi capaz de completar suas possibilidades iluminísticas em função dos constrangimentos e mutilações a ela impostas pela lógica do capital.
Postado por Maycon Bezerra de Almeida às 15:43

1 comentários:
depoimento disse...
É o mundo em que vivemos os criminosos são os que mais tem direitos na justça dos homens e também agora acreditem se quizer alguns acham também que na justiça de DEUS.
7 de Março de 2009 11:19
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